O corticóide pré-natal em gestantes tem o intuito de reduzir as complicações neonatais associadas ao nascimento prematuro.
a) Pra que servem as injeções? Quando devem ser administradas as injeções?
A pediatra Ana Paula Caldas, que atende partos domiciliares e hospitalares, dá as seguintes orientações sobre a administração das injeções de corticoides:
- Servem, exclusivamente, para acelerar a produção de uma substância que ajuda na maturação pulmonar do feto, caso ele nasça prematuro.
- Ela é indicada em gestações de risco, em que há iminência do nascimento para melhorar as chances de sobrevivência do bebê.
- Seu efeito dura de 48 horas a 7 dias e só deve ser aplicada até as 34 semanas, então não adianta tomar as injeções com 37 semanas de gestação para poder marcar a cesárea na semana seguinte.
- Ela não é isenta de riscos, tem efeitos na formação do cérebro do bebê.
A Sociedade Portuguesa de Pediatria possui um documento completo sobre a administração do corticoide, considerando as tabelas abaixo referente ao grau de recomendações e os níveis de evidências.
Seguem algumas das questões respondidas por este documento (Documento Completo
Aqui)
Quais são os benefícios da sua administração pré-natal?
A administração pré-natal de corticoides está associada a reduções significativas, tanto do risco de morte neonatal, como da ocorrência de doença da membrana hialina e de hemorragia intra-ventricular neonatais (Nível de Evidência A, Grau de Recomendação I). Não lhes são atribuíveis efeitos benéficos maternos.
A que gestantes devem os corticoides ser prescritos? Os clínicos devem prescrever um único ciclo de corticoides às grávidas entre 24+0 e 34+6 semanas de gestação que se encontrem em risco de parto prematuro (Nível de Evidência A, Grau de Recomendação I).
A sua administração a grávidas entre 23+0 e 23+6 semanas é de considerar, embora a sua utilidade seja questionável (Nível de Evidência B, Grau de Recomendação IIa).
Em caso de gestação gemelar entre 24+0 e 34+6 semanas, na eminência de nascimento, está também indicada a prescrição de um ciclo de corticoides (Nível de Evidência C, Grau de Recomendação IIa).
Nos casos de restrição de crescimento intra-uterino em risco de nascimento entre as 24+0 e as 35+6 semanas, há evidência de que a administração de um curso de corticoides tem benefício neurológico (Nível de Evidência B, Grau de Recomendação I).
Salientando-se que a cesariana eletiva deve continuar a ser realizada às 39+0 semanas, ou mais tarde, sempre que aquela tiver que ser efetuada até às 38+6 semanas, deve ser administrado à gestante um ciclo de corticoides. Esta prática comprovadamente reduz a necessidade de internamento dos recém-nascidos por diminuir os seus problemas respiratórios, entre outros (Nível de Evidência A, Grau de Recomendação I).
Quanto tempo dura o efeito benéfico dos corticoides?
Os corticoides pré-natais são mais eficazes na prevenção da doença da membrana hialina se o nascimento ocorrer entre 24h e 7 dias após a última toma materna (Nível de Evidência A, Grau de Recomendação I).
Mostraram-se, no entanto, eficazes na diminuição da mortalidade neonatal mesmo quando o nascimento ocorre antes de passadas 24h, pelo que a sua administração continua a estar indicada, ainda que esse evento seja previsível (Nível de Evidência A, Grau de Recomendação I). 4
Quão seguros são os corticoides?
Um único ciclo pré-natal de corticoides não está associado a efeitos adversos a curto prazo, tanto maternos como fetais (Nível de Evidência A, Grau de Recomendação I). A avaliação a longo prazo dos benefícios e riscos de um só ciclo de corticoides não demonstra claramente que haja efeitos adversos, neurológicos ou cognitivos (Nível de Evidência A, Grau de Recomendação I).
Ainda não há dados suficientes para ajuizar dos benefícios e riscos, a longo prazo, resultantes da prescrição de múltiplos ciclos de corticoides (Nível de Evidência A, Grau de Recomendação III).
Há contra-indicações para a prescrição pré-natal de corticoides?
Deve-se ser cauteloso na prescrição de corticoides a gestantes com infecções sistémicas, incluindo tuberculose e sépsis (Nível de Evidência C, Grau de Recomendação III).
Há evidência de associação entre corioamniotite clínica e posterior desenvolvimento de leucomalácia periventricular e paralisia cerebral pelo que, naquela circunstância, os corticoides devem ser iniciados mas o parto não deve ser adiado se a condição materna e/ou fetal aconselhar a sua realização (Nível de Evidência A, Grau de Recomendação I).
A diabetes mellitus materna não é contra-indicação para a administração de corticoides. Nesse caso, a insulinoterapia poderá ter que ser ajustada (Nível de Evidência C, Grau de Recomendação IIa).
Fontes de estudos: Grupos de Profissionais da área/ Sociedade Portuguesa de Pediatria